domingo, 19 de dezembro de 2010

A BARATA


Era noite e os internos estavam se recolhendo para o quarto! Sr. Rude estava de mal humor, mais do que nunca, e as crianças tinham que se recolher antes da hora aos seus dormitórios!
Duas crianças haviam relatado não conseguir dormir, devido a alguns barulhos estranhos que ouviam vindos do antigo banheiro feminino! Estava rolando uma história de que uma tal de Dona Soca havia morrido ali, depois de ter visto uma barata e entalado no vaso sanitário, devido ao pavor que sentira! É claro que o Sr. Rude não acreditava nisso! Nunca ouvira falar dessa tal de “Dona Soca”, e fantasmas não existiam!

Àquelas crianças ainda deixariam-no louco! Já tinha perdido o pouco cabelo que tinha, sinal de sua tenra juventude, que já o deixara há tempos! Talvez se aposentar seria o melhor, mas agora não podia! Seu irmão havia confiado nele, e ele precisava cumprir com o que lhe prometera!

Naquela noite iria investigar de onde vinham àqueles ruídos que as crianças diziam ter ouvido! Claro que, seria tudo invenção delas para matar aula, mas era o seu trabalho! Precisava se certificar de que não havia nenhum clandestino na escola, se aproveitando de suas magníficas acomodações!

E então...

Pegou uma lanterna que fracamente iluminava... Não queria chamar atenções para si! Andava com a ponta dos pés e com a maior leveza de que conseguia! Pronto! Estava no ponto que queria! Já não precisaria mais da lanterna! Desligou-a, e engatinhou até o canto do reservado de onde haviam dito que “Dona Soca” gemia! É claro que não acreditava ser a “Dona Soca” a gemer, mas a pobre barata que devia ter morrido com o susto de ver uma senhora de meia idade gritando muito e se descabelando! Pensando bem, a barata devia ter morrido foi de rir...

- Dona Soca...? – chamava em sussurro. – A senhora está por aí?

Nenhuma resposta vinha!

- Hey Dona Soca! Não seja tímida! Fale comigo! Preciso lhe perguntar uma coisa...

Não havia percebido que alguém se aproximava e logo estava lhe tocando o ombro!

- Desta vez você está enrascada, Julien! – Sr. Rude, com uma lanterna que bem iluminava, ofuscou a visão da garota.

- Espere, senhor! Há algo de errado aqui! Eu ouvi esta noite! Eu ouvi!

- Sem histórias! Você ficará de castigo por toda a semana! Terá que ajudar Mari na cozinha e o Sr Estevan no jardim! E nada de passeios noturnos!!!

- Mas, mas...

Sr. Rude não queria ouvi-la! Isto era uma injustiça! Estava certa de que algo havia ali! Havia mesmo ouvido! Agora que estava com tempo livre, já que estava de castigo trabalhando e voltando pro quarto, tentava se lembrar do som abafado que ouvira... Não pareciam gemidos, pareciam... Precisava voltar àquele lugar!

Pegara um travesseiro extra no armário e colocara embaixo de seus cobertores, só pra não dar bandeira! Tinha que verificar desta vez! Porém, precisava do dobro do cuidado! Estavam marcando-a! E nenhum de seus colegas se arriscavam a ajudá-la! Sr Rude lhes arrancaria o couro... Mas Julien conhecia todo caminho daquela instituição! Caminhos que, até mesmo o Sr Rude não sabia! Era a única de sua turma que se arriscava a ir pelo túnel do porão! Achava mesmo que era a única naquela escola toda com coragem o suficiente! Passou rapidamente pelo porão e abriu um alçapão que estava do lado oposto! Não havia lâmpada naquele lugar e ele sempre estava escuro, mas Julien já havia explorado ali com Melany anteriormente! Melany disse que nunca mais voltaria, mas Jill sabia que precisaria daquele lugar algum dia! E sua intuição estava certa! A portinha horizontal dava bem no banheiro abandonado! Sorrateiramente chegou a ele, e tentou tateá-lo no escuro! Porém, não tateou muito até descobrir que estava enrascada!

- Outra vez, Julien?

- Sr Rude, me escute! Há algo vindo daqui, eu não sei bem...

- Pare com isso! Mais uma falta e você será transferida e...

Fez-se ouvir um barulho... Parecia um afiar de unhas numa lousa, ou vidro!

- Mas o que é isso? É você, Julien? – perguntou Sr Rude, irritado.

- Não, não...

Decidiu acender a luz para observar! Não é que era um gato preto no alpendre, afiando a unha na janelinha superior do banheiro!

- Mas então era isso...

- Eu disse ao senhor! – falou Julien, sorrindo!

No dia seguinte:

- Então o Sr Rude te liberou do castigo? – perguntou Melany, enquanto construía um barco de areia.

- Sim! Mas disse para não fazer as coisas da forma que fiz! Alertou-me a procurá-lo que ele vai se certificar!

- E por que você não fez isso que ele recomendou, Jill? – perguntou Tom, que também estava brincando com a areia. – Bem menos arriscado!

- Sabe o que é, Tom? Eu queria falar com a tal de “Dona Soca” pra perguntar como era aquela barata que ela viu! Talvez fosse a que eu tinha de estimação no Cansas...

- Ah não, Jill! – resmungaram os amigos de Julien, enquanto a mesma brincava inocentemente.